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Jamais esqueceremos

Um ano da chacina que marcou a história da Grande Messejana
Bárbara Barroso e Yngrid Matsunobu

Não foi uma sexta-feira comum na Praça Gustavo Barroso, no bairro Messejana. De frente para o tradicional colégio Liceu do Ceará, a comunidade trocava palavras e experiências sobre o fatídico dia 12 de novembro de 2015 que vitimou onze jovens. Familiares, amigos, colegas e professores das vítimas daquela madrugada se uniram aos demais moradores do Curió, Messejana, São Miguel dentre outros bairros para protestar.

 

Nos corações de cada um, a saudade e a revolta. Faixas com os dizeres "Jamais esqueceremos" e frases em homenagem aos que partiram revelaram a dor de quem não se conforma com a violência.
 

Nos rostos, o semblante, mesmo triste, também é de resistência. Um cartaz com "Saímos do Facebook" demonstrava que estavam ali com um propósito, o mesmo pelo qual lutam há mais de doze meses: justiça para com o ocorrido.
 

Os moradores organizaram o movimento por meio das redes sociais. Os coletivos comunitários, por sua vez, também fizeram parte da divulgação. Chris Rodrigues, responsável por manter contato com os familiares das vítimas e a comunidade, representou o Voz e Vez. Segundo o ativista, a comunidade vive, entre si, em um momento de paz em que as brigas de gangues e outros tipos de violência ficaram no passado. O coletivo Voz e Vez foi criado após a Chacina para promover eventos culturais que deixassem um legado aos jovens da região.
 

Wagner Ventura, professor de História da Escola Municipal Professora Terezinha Ferreira Parente, também foi uma das peças-chave que contribuíram para a realização do encontro. Por ter convivido com vítimas, ex-alunos da escola, ele encontrou na ação de compartilhar experiências com a comunidade, um método de amenizar a dor. "Eu fiz uma roda de conversa, (os alunos) foram produzir, escrever, refletir. É uma forma de você entender as coisas, os acontecimentos. E outro momento, foi [...] de procurar se organizar", conta.


Ele destaca ações organizadas no bairro Curió. "Nós fizemos pelo menos três grandes atividades de massa para chamar atenção e algumas atividades internas: plenárias, audiências com o secretário de segurança pública, com autoridades legislativas", diz.

   
No local, mães que perderam seus filhos também reuniram forças para superar o acontecido. Mais que por justiça, elas lutam pela vida dos que ficam e esperam que o sentimento, hoje ainda constituído por traços de dificuldade, se renove, revigore e renasça em um cenário de esperança.

“A gente luta pela justiça pelo meu filho, mas principalmente para que isso (a violência) pare de acontecer. Não desejo essa dor pra mãe de ninguém”, diz a mãe de Patrício João Pinho Leite, um dos onze jovens mortos na Chacina.

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De fato, o ato para a população é transformador. Mesmo com o passar dos 12 meses, o caso ainda segue em aberto, o que motiva a população a continuar lutando por uma resolução.


JUSTIÇA
 

Após o ocorrido, 44 policiais militares foram denunciados, intimados e presos. O caso, que resultou em onze mortos e sete feridos, é analisado pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). A equipe é composta por profissionais que do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e por um grupo de especialistas voltado para a investigação da Chacina. Depoimentos dos acusados continuam sendo ouvidos, ao longo dos meses, em audências no Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza. Até janeiro de 2017, 43 réus se encontravam em cárcere, com exceção  de um dos sargentos, que cumpre prisão domiciliar por questões de ordem pessoal.

Manifestantes concentrados na Praça Gustavo Barroso. Nas camisas, frases em homenagem aos que partiram,

Os dizeres "Jamais esqueceremos", demonstrando a indignação de cidadãos para com a chacina que causou onze vítimas.

Crianças e adultos unidos, na luta por justiça pelo ocorrido.

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